Movimentos de Massa em Kerala: A Crise Crescente e a Devastação de 2024

Kerala, uma das regiões mais densamente povoadas da Índia, tem 47% de sua área ocupada pelos Western Ghats, uma cadeia montanhosa propensa a movimentos de massa, particularmente fluxos de detritos, localmente chamados de "Urul Pottal." As escarpas voltadas para o oeste são especialmente suscetíveis, recebendo até 500 cm de chuva anualmente. Historicamente, a instabilidade das encostas era menor, mas o desmatamento, a construção de terraços e o cultivo inadequado desde o século XVIII exacerbaram os deslizamentos de terra. A maioria ocorre em encostas com mais de 20° de inclinação, desencadeados por chuvas prolongadas ou intensas e aumento da pressão dos poros no solo.


Destruição provocado por fluxo de detritos ocorrido em 30 de julho de 2024.


Nos últimos anos, os deslizamentos de terra se tornaram uma calamidade comum durante as monções. Em 2018, ocorreram 4.728 deslizamentos com uma precipitação 36% acima do normal, resultando em 48 mortes. Em outubro de 2021, três deslizamentos ocorreram no mesmo vale após uma precipitação intensa de 266 mm em um único dia. Embora os três deslizamentos tenham sido causados por chuvas intensas, os fatores condicionantes variaram. A substituição da vegetação nativa por plantações, rodovias e assentamentos humanos facilitou a ocorrência dos deslizamentos, especialmente quando o solo já estava saturado pelas chuvas anteriores. O deslizamento de Kokkayar foi causado predominantemente por atividades humanas, enquanto o de Plappally teve também influências geomórficas e tectônicas, e o deslizamento de Kavali foi provocado pela fragmentação da floresta.


Cicatriz de fluxo de detritos
Fluxo de detritos deixando cicatriz desde sua área fonte.


Em 30 de julho de 2024, um fluxo de detritos devastou as vilas de Mundakkai e Chooralmala, em Wayanad, vitimando 231 pessoas e deixando 218 desaparecidos. De acordo com o relatório preliminar do Serviço Geológico da Índia (GSI), o deslizamento se moveu a uma velocidade extremamente rápida, estimada em 57 metros por segundo, percorrendo uma distância de até 7 km. Esse tipo de movimento de massa, classificado na categoria de movimento mais rápido, foi impulsionado por chuvas incessantes e uma enorme quantidade de material, incluindo rochas e solo. O fluxo seguiu o curso do rio Punapuzha, forçando-o a mudar seu leito e desaparecendo com as vilas.


A coroa do fluxo de detritos de 30 de Julho de 2024.


Segundo o GSI, a área de origem desse fluxo de detritos tem uma elevação de 1.544 metros, e a natureza inconsolidada do material sobreposto, somada à pressão excessiva dos poros causada pelas chuvas, foi o principal fator desencadeante do evento. Embora as encostas superiores e intermediárias ao redor da área de origem estejam cobertas por florestas densas, as áreas afetadas incluem plantações de chá e culturas mistas, o que agravou a situação. O GSI também observou que a área onde o deslizamento começou já mostrava sinais de instabilidade desde a monção de 2018, com o terreno sendo reativado a cada temporada de chuvas.


Cicatriz de fluxo de detritos
Destruição provocada pela passagem do fluxo de detritos.


A cobertura de solo da região, que tipicamente tem entre 1 e 3 metros de espessura e é composta por blocos, colúvio não compactado e laterita, é facilmente deslocada por atividades humanas, um fator historicamente relacionado aos deslizamentos, conforme apontado em um artigo de 2009 no periódico Environmental Geology. Desde os deslizamentos de 2018 e 2019, a área já apresentava instabilidade progressiva, e, neste último evento, a velocidade do rio Iruvazhinji em direção a Mundakkai e Chooralmala intensificou ainda mais a devastação, culminando no fluxo de detritos catastrófico deste ano.


Comparação entre os deslizamentos de 2019 e 2024
Fluxo de detritos antigo à esquerda; cicatriz do fluxo de 2024.


A substituição da vegetação nativa, os eventos climáticos extremos e o aumento da ocupação humana nas encostas tornam a dinâmica de precipitação o fator crítico para desencadear deslizamentos em Kerala. Wayanad e Kozhikode são propensas a deslizamentos profundos, enquanto Idukki e Kottayam são mais suscetíveis a deslizamentos superficiais. Estudos identificaram 29 grandes eventos de deslizamentos em quase todos os distritos de Kerala, destacando a crescente suscetibilidade da região a esses desastres.


Moradias soterradas por corrida de massa na Índia
Edificações soterradas pela passagem do fluxo de detritos.


Saiba mais


  1. History of landslide susceptibility and a chorology of landslide-prone areas in the Western Ghats of Kerala, India. 







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