Arte Sísmica

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Em 28 de fevereiro de 2001, um terremoto de magnitude 6,8, conhecido como o terremoto de Nisqually, ocorreu a 50 quilômetros de profundidade, abaixo de Olympia, proximidades de Seattle, Washington. Durou entre 30 a 40 segundos, devido à dinâmica da placa tectônica em subducção Juan de Fuca, e deixou um rastro de destruição avaliado em mais de $US 4 bilhões. Mas também, deixou uma assinatura única na areia.


Devastação do terremoto de magnitude 6,8 ocorrido em 28 de Fevereiro de 2001.


Terremotos Não São Apenas Destruição

Na loja Mind Over Matter, no subúrbio de Port Townsend, condado de Jefferson, Washington, uma surpreendente forma na areia foi descoberta pelos funcionários, uma evidência artística do tremor.

A escultura foi criada por um pêndulo suspenso sobre uma bandeja de areia, muitas vezes chamado de pêndulo de Lissajous. Normalmente, este dispositivo registra padrões harmônicos simples à medida que o pêndulo se move, funcionando com base nos princípios da gravidade e do movimento harmônico simples. Este tipo de pêndulo cria padrões complexos e bonitos na areia.


Pêndulo de Lissajous ou pêndulo de areia.


O pêndulo consiste em uma haste suspensa que pode oscilar livremente em qualquer direção. Na extremidade inferior da haste, geralmente há um pêndulo menor ou um objeto que toca uma bandeja de areia posicionada diretamente abaixo dele. 

Quando o pêndulo é retirado de sua posição de repouso e solto, a força da gravidade age sobre ele, iniciando um movimento oscilatório e desenhando padrões na superfície da areia. A natureza desses padrões depende do movimento inicial, da duração da oscilação e das propriedades físicas do pêndulo, como comprimento e peso.


Funcionamento de um pêndulo que desenha na areia com um padrão resultante.


Quando o pêndulo é movido de forma que oscilações independentes ocorram tanto no eixo horizontal quanto no vertical, os padrões criados podem se assemelhar aos conhecidos como padrões de Lissajous. Estes são padrões geométricos complexos que resultam da combinação de dois movimentos harmônicos simples perpendiculares entre si, impulsionados pela gravidade e inércia.


Figuras ou padrões de Lissajous: oscilações na horizontal e na vertical combinadas para elaborar os padrões.


Com o tempo, a oscilação do pêndulo diminui devido ao atrito e à resistência do ar, o que gradualmente altera e eventualmente interrompe a criação de padrões na areia.

Além de ser um objeto fascinante de arte cinética, criando padrões artísticos, esses pêndulos são usados para demonstrar conceitos físicos de movimento periódico e harmônico e de ondas.

Em 2001, o terremoto interrompeu o padrão normal e esperado para produzir seu próprio padrão que se assemelha a uma rosa.


Rosa formada na areia por pêndulo durante terremoto.
Desenho formado na areia pelo pêndulo.


Jason Ward, dono da loja, refletiu sobre a descoberta: "É como a assinatura da Mãe Natureza. Apesar dos recentes acontecimentos ruins, a 'rosa do terremoto' trouxe uma mensagem positiva e inspiradora diretamente da Mãe Natureza."


Rosa formada na areia por pêndulo durante terremoto.
Padrão desenhado pelo pêndulo.


Bill Steele, sismólogo da Universidade de Washington, comentou sobre o fenômeno: "O desenho mostra o padrão tridimensional do terremoto. É um pequeno sismograma que ajuda as pessoas a entenderem como o solo estava se movendo no momento do terremoto." O desenho na areia, embora não seja um registro científico preciso, oferece uma representação visual fascinante da atividade sísmica.


Detalhe do padrão em forma de rosa desenhado pelo terremoto.


O geólogo Lin Sutherland, do Centro de Pesquisa em Geodiversidade do Museu Australiano, concorda que a escultura de areia tem um valor artístico significativo. Segundo ele os diferentes tipos de ondas sísmicas contribuíram para a formação do padrão: as ondas 'P' causaram as grandes oscilações externas, que são ondas de alta frequência, rápidas e que causam um movimento de empurrar e puxar, enquanto as ondas 'S' mais lentas formaram as menores oscilações em direção ao centro. As longas ondas de superfície, responsáveis pelos maiores danos durante terremotos, produziram os detalhes no centro do padrão.

O aparente duplo centro do padrão na areia poderia indicar um reajuste da base do pêndulo após a passagem do terremoto, possivelmente causado pelo movimento do prédio em suas fundações.



Para Saber Mais

Ondas sísmicas: elas são geradas por terremotos e se propagam através da Terra. Existem três tipos principais:

  1. Ondas P (Primárias): São as primeiras a chegar ao sismógrafo após um terremoto. Estas ondas se movimentam por compressão e expansão, semelhante ao som, e podem se propagar em sólidos, líquidos e gases.
  2. Ondas S (Secundárias): Chegam após as ondas P. Estas ondas se movimentam perpendicularmente à direção da propagação e só podem viajar através de sólidos, não de líquidos ou gases. 
  3. Ondas de Superfície: São as últimas a chegar e as mais destrutivas. Elas se movimentam ao longo da superfície da Terra. Existem dois tipos principais: ondas Love, que causam movimento horizontal, e ondas Rayleigh, que resultam em movimento tanto vertical quanto horizontal.

 

Tipos de Ondas Sísmicas: P, S, Love e Rayleigh
Modelos estáticos de propagação dos diferentes tipos de ondas sísmicas: P, S, Rayleigh e Love.



Onda Sísmica P: animação mostrando a propagação da onda.
Animação simples do movimento associado às ondas do tipo P. Fonte: Braile (2010).

Animação simples do movimento associado às ondas S. Fonte: Braile (2010).

Animação simples do movimento associado à onda sísmica de superfície do tipo Rayleigh. Fonte: Braile (2010).

Animação simples do movimento associado à onda sísmica de superfície do tipo Love. Fonte: Braile (2010).

Essas ondas podem ser captadas por sismógrafos que produzem os sismogramas. Um sismograma registra o movimento do solo em um local específico, onde o instrumento sismográfico está localizado. No sismograma:

  • O eixo horizontal representa o tempo, geralmente medido em segundos.
  • O eixo vertical representa o deslocamento do solo, normalmente medido em milímetros. 

 

Sismograma do Terremoto de Nisqually: movimento horizontal na direção Leste-Oeste. Eixo vertical aceleração gravitacional em porcentagem.

 

Quando não há terremotos, o sismograma mostra principalmente uma linha reta com pequenas oscilações devido a ruídos ou perturbações locais, além dos marcadores de tempo. Durante um terremoto, esse padrão é interrompido por ondas sísmicas mais pronunciadas, refletindo a intensidade e a natureza do evento sísmico.{hlBox}




De Seattle ao Utah: registros na areia

Um terremoto de magnitude 5,7 atingiu Magna, perto de Salt Lake City, Utah, em 18 de março de 2020, sendo o maior então registrado desde o terremoto de 5,9 em Utah em 1992. Com epicentro a apenas 5,0 quilômetros de Magna, no Vale do Salt Lake, o sismo foi sentido em grande parte do norte-central de Utah e até em Wyoming.

Acompanhado por mais de 80 réplicas, incluindo duas com magnitudes de 4,0 e 4,6, o terremoto causou danos leves, com o aeroporto de Salt Lake City temporariamente fechado e cerca de 29.000 residências sem energia elétrica. Felizmente, não houve mortes ou feridos reportados.

Essa ocorrência de 2020 em Utah ecoa o terremoto de Seattle de 2001, onde um outro pêndulo de areia captou as ondas sísmicas, transferindo-as para a areia, unindo geologia e arte, se assim se pode dizer. O registro foi compartilhado no Reddit, veja a foto abaixo.


Rosa Desenhada na Areia por Pêndulo durante Terremoto no Utah.
Foto do suposto padrão desenhado na areia pelo pêndulo durante o terremoto de magnitude 5,7 do Utah em 18 de março de 2020. Fonte: Reddit.


Artes e Terremotos

Outras formas de visualizar um terremoto já foram exploradas, como a escultura criada pelo artista Luke Jerran para refletir sobre o terremoto e tsunami de Tōhoku, ocorridos em 2011 no Japão.


Para criar a escultura, o sismograma do terremoto foi transferido para um CAD e, em seguida, impresso em três dimensões. A obra mede 30cm x 20cm e representa 9 minutos do terremoto e explora como os dados são lidos e interpretados e, também, uma memória de um dos terremotos mais devastadores do Japão.

A escultura foi apresentada inicialmente no Jerwood Space em Londres, em uma exposição chamada Terra, e depois também foi feita em vidro e exibida na Heller Gallery em Nova York, em 2012. Adicionalmente, a escultura foi exibida em diversos outros locais, incluindo: Jerwood Visual Arts, Londres; Grizedale Sculpture, Reino Unido; Heller Gallery, Nova York, entre outros. Uma edição da obra está na coleção permanente do Museu de Arte de Knoxville, EUA.


A Arte Que Nasce dos Tremores 

A interseção entre geologia e arte, como a 'rosa do terremoto' formada pelo pêndulo durante o terremoto de Nisqually em 2001 e o desenho na areia do terremoto de Magna, Utah, em 2020, oferece uma perspectiva única. Esses fenômenos não apenas capturaram a dinâmica das ondas sísmicas, mas também transformaram eventos naturalmente destrutivos em fontes de inspiração e beleza artística.

Mesmo que essas representações na areia não sejam registros científicos precisos, elas proporcionam uma fascinante representação visual da atividade sísmica. Além disso, a escultura em 3D do terremoto de Tōhoku, Japão, serve como um lembrete artístico dos impactos e da memória de um dos terremotos mais devastadores já ocorridos em nosso planeta.

Essas obras de arte, emergindo dos movimentos da Terra, não só enaltecem a força da natureza, mas também destacam a criatividade humana em encontrar beleza e significado naquilo que muitas vezes é visto apenas como destruição.


Saiba Mais e Referências

  • Rattle in Seattle Creates Earthquake Art. APS News, May 2001.
  • An earthquake’s autograph. ABC News, March 2001.
  • 5.7 magnitude earthquake shakes Salt Lake County, Utah. KU TV, March 2020. 
  • Sand pendulum records 5.7 earthquake waves in Utah. Reddit, March 18, 2020.
  • Braile, L. Seismic Waves Demonstration and Animation. Purdue university, February 26, 2010.
  • Remembering the anniversary of the Nisqually Earthquake. Washington Military Administration, February 23, 2023.
  • Luke Jerram. Tōhuko Earthquake.


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