Cada elemento, por mais distante que pareça, influencia e é influenciado por outros em uma teia complexa de interdependência. É sutil e onde o tumulto de um evento aparentemente isolado pode desencadear transformações inesperadas em outras partes do sistema, reforça a unicidade de todas as coisas em nosso mundo interdependente. Vejamos as duas imagens a seguir.
Um vulcão em erupção no dia 27 de maio de 2010, no Equador, que entrou em atividade síncrona com o vulcão Pacaya, localizado na Guatemala. |
Abatimento simétrico circular de grande profundidade que ocorreu durante a última tempestade tropical na América Central. |
Qual a ligação entre as duas fotos acima?
A primeira vista a resposta seria nenhuma. Porém, pode existir uma ligação entre o vulcanismo passado e presente para a ocorrência do estranho buraco formado na Cidade da Guatemala durante a última tempestade tropical, chamada Ágata.
Imagem de satélite da Tempestade Ágata em 29 de maio de 2010. |
A opinião dos geólogos divide-se ao tentar entender o evento: a primeira vertente é que seria um sinkhole (ou abatimento). Um fenômeno natural que veio se desenvolvendo por alguns milhares de anos e subitamente foi deflagrado pela forte tempestade. Provavelmente causado pelo desenvolvimento de uma feição cárstica (vazio, como uma caverna subterrânea em rochas solúveis, tais como, calcário e gipso) e que acabou cedendo devido à dinâmica das águas subterrâneas.
Vista aérea do abatimento formado |
A segunda é que o evento foi causado pelo homem e os sistemas de esgotamento e drenagem urbanos com a ajuda de fenômenos naturais, a tempestade tropical e as cinzas de erupções passadas e presentes deflagraram o afundamento.
Vista aérea mais próxima e de detalhe do abatimento formado |
O que suporta em parte a segunda explicação é o fato que no dia 27 de maio, o vulcão guatemalteco Pacaya próximo da cidade entrou em erupção lançando quantidade expressiva de material vulcânico na atmosfera e que chegou em parte ser depositado sobre a cidade da Guatemala.
Cinza vulcânica cobre carros e ruas de bairro na zona sul da Cidade da Guatemala. |
No dia seguinte o buraco se abriu engolindo uma fábrica de tecidos de três andares de altura. A feição apresenta geometria circular perfeita com cerca de 18 metros de diâmetro e cerca de 300 metros de profundidade.
Mulher se cobre para evitar a queda de cinzas enquanto fala ao telefone. |
O material vulcânico expelido em grandes quantidades poderia ser um dos agentes para o entupimento de galerias e outros sistemas de drenagem urbana. Portanto, é passível de ser considerado um dos deflagradores de um rompimento de tubos de galeria de águas pluviais ou outra estrutura. Obviamente, para o tamanho e geometria o local estava sofrendo abatimento gradual e que por fim sofreu colapso.
Considera-se também que a Guatemala não possua recursos suficientes para dar manutenção adequada em seus sistemas de drenagem, além de possivelmente estarem as galerias sub-dimensionadas para o volume de águas atual.
Fotografia a partir do chão da cavidade em superfície. |
No entanto, a primeira explicação para o fenômeno tem grande fundamentação na comunidade científica ao redor do mundo. Existem inclusive casos no Brasil, sendo o mais famoso o "buraco de Cajamar" que cedeu pelo rebaixamento do nível d´água causado por sua explotação. Este é um caso que o homem acelera um processo de ocorrência natural e, portanto, não sendo seu principal causador.
Embora não sejam exatamente iguais aos movimentos de massa tradicionais, como deslizamentos de terra, avalanches ou quedas de rochas, os sinkholes envolvem a instabilidade do solo e a movimentação de materiais terrestres. Sua formação pode ser causada por vários fatores, incluindo dissolução de rochas pela água subterrânea, colapso de cavernas ou minas abandonadas, vazamentos de tubulações subterrâneas ou mesmo atividades humanas que comprometem a estabilidade do solo.
Portanto, embora a natureza e as causas dos sinkholes sejam diferentes de outros movimentos de massa, eles podem ser considerados eventos geológicos que envolvem o deslocamento ou colapso de materiais terrestres, contribuindo para a modificação da paisagem terrestre.
Bloco diagrama ilustrando diversas situações em calcário (rocha solúvel) e vulcânicas (mais resistentes). |
Observando com maior atenção as fotografias é possível extrair que a abertura circular não tem continuidade simétrica com a profundidade. A determinado ponto as paredes se abrem indicando um espaço bem maior abaixo, evidenciando uma provável caverna subterrânea.
Esquema para ilustrar as sucessivas etapas do afundamento / subsidência e colapso ocorridos em Cajamar, interior de São Paulo (UNESP) |
Provavelmente a causa deste evento é uma mistura entre o fenômeno natural de formação de cavernas subterrâneas e abatimento em ambientes geológicos propícios, e sistemas de drenagem e distribuição de água que podem ter sido perturbados por movimentações graduais pré-colapso defragrando o abatimento.
Curiosamente uma mesma feição se formou antes, em fevereiro de 2007, na cidade da Guatemala como pode ser visto na reportagem da National Geographic.